Profissão jornalista: jovens devem participar do enfrentamento da crise

Profissão jornalista: jovens devem participar do enfrentamento da crise

Volta da exigência do diploma, jornalismo como suporte à democracia, empregos na imprensa tradicional de jornal, rádio e TV. Nada disso está no horizonte dos jornalistas recém-formados. Essa análise foi feita pela professora universitária Adriana Corrêa durante o sétimo encontro on-line do Projeto Enfrentamento da Crise da Profissão de Jornalista (Enprojor), no dia 5 de julho.

Formada em 2004, a jornalista Adriana Corrêa enfatiza que o Enprojor precisa contemplar esses jovens profissionais. “Esse enfrentamento deve incluir os jovens recém-formados. Eles já foram para a graduação sabendo que o jornalismo não é exclusividade de quem fez a faculdade específica, e não têm a mesma visão do tema que a nossa geração”, afirmou ao comentar sobre um ex-aluno seu, formado na Faculdade Católica Salesiana de Macaé.

“Nosso idealismo, por um lado, e o neoliberalismo voraz, por outro, nos deram uma ideia preconceituosa do que é ser empreendedor”, analisou Bruno Pirozi, assessor de imprensa da prefeitura de Rio das Ostras (RJ), que atua também como autônomo, ao relatar curso de que participa e que forma jornalistas para terem o próprio negócio.

Adriana, que também é assessora de comunicação na Câmara Municipal de Macaé, concorda e reforça que os novos jornalistas estão voltados para o empreendedorismo e ainda às redes sociais. Ela ressalta que os profissionais do setor devem primar não apenas pelo lucro, mas por gerar reflexão.

Intelectuais e formadores de opinião

“O jornalista não pode esquecer que é um formador de opinião. As novas tendências não devem afastar os jovens profissionais do idealismo”, destacou Milena Hygino, professora do Programa de Pós-graduação em Cognição e Linguagem da Universidade Estadual do Norte Fluminense (PGCL/Uenf), de Campos dos Goytacazes (RJ).

Ana Cristina Hermano, que integra a equipe da assessoria riostrense, propôs a reflexão sobre a identidade profissional do jornalista. “Em minha opinião, somos intelectuais, e ainda somos, com as devidas atualizações, como os ‘homens das letras’ iluministas, com a missão de esclarecer a sociedade”.

Viver do jornalismo e sustentar a democracia

“O empreendedorismo converge com o enfrentamento da nossa crise profissional porque, para alguns, viabiliza o ofício, que tem muitas vertentes. Mas penso que a principal é a que atua diretamente na defesa da democracia, ainda mais nesses tempos em que o fascismo volta a se espalhar no Brasil e no mundo”, enfatizou Marcello Riella Benites, doutorando do PGCL/Uenf, e idealizador do Enprojor.

Em alguns relatos, compareceu o desencanto devido ao desinteresse da sociedade atual pelo aprofundamento dos fatos. “Eu até fico em dúvida se é tão necessário. Não se dá importância. Um jovem hoje não lê tanto quanto nós líamos e pode até crescer sem conhecer Drummond, por exemplo. E pra ele, vai estar tudo bem!”, disse Max Andrade, que já atuou em grande emissora da TV aberta e atualmente é assessor de comunicação da prefeitura de São Pedro da Aldeia (RJ).

Crítica à plataformização do jornalismo

“Estudei na UFSC, com Nilson Lage e outros grandes nomes do jornalismo. Aprendemos a fazer matérias muito aprofundadas. Não sei se há ainda espaço para jornalistas de fato. Todo mundo hoje é youtuber, influencer em plataformas digitais…”, comentou Jaime Luccas, de Porto Alegre.

Sendo um dos fundadores da Rede Unidade e Resistência (ReUniR), comunidade de 170 pessoas de todo o Brasil e exterior, ele critica a plataformização do jornalismo, mas não rejeita as redes como instrumento de trabalho. Com um canal no YouTube, a ReUniR transmite lives em formato jornalístico nas quais Jaime é moderador.

Prioridade aos jovens jornalistas e próximo encontro do Enprojor

Segundo Marcello, a reunião contribuiu muito para a pesquisa que lidera. “Por mais que eu soubesse desse distanciamento dos jovens com os temas mais importantes do jornalismo, não tinha atinado que não podemos fazer o resgate da nossa profissão sem priorizá-los”, concluiu. O Enprojor é a tese de doutorado do jornalista, que tem Milena como co-orientadora. O subtítulo do trabalho é “tecnologia e mercado, identidade e discurso” e a defesa será em meados de 2025.

O próximo encontro será em outubro com data a ser definida e informada à imprensa. O link já pode ser solicitado pelo whatsapp 22 99832-9028.

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Ronet

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